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Autoajuda: uma empresa milionária



    A moda, há algum tempo, é vender livros de autoajuda ou lançar orações otimistas ao vento. Logo - não custa tanto - estas serão o alimento dos tolos que adoram frases feitas e bem acabadas, algo como se a vida fosse um bendito programa de televisão dominical: cheio de efeitos, luzes, ribaltas, dançarinas gaias, sorrisos plásticos e afins.
   Em autoajuda não há nada diferente que em dizer:  2 + 2 = 4, no entanto alguns escrevinhadores desta modalidade empresarial   vão além e dizem que 2 + 2 é = 22 basta que você queira... Ou seja, como existem diversas formas de dizer o óbvio - a autoajuda sobrevive. Torna-se uma "fabriqueta de perfumes" do essencialismo natimorto do tomismo  - de odor símile tanto em evaporação quanto em preço.  O grande diferencial deste perfume é que ao invés de proteger o indivíduo por fora  - inverte-se criando-se um invólucro endógeno tal maneira que a armadura deste novo homem o engana - o faz acreditar em "qualquer verdade" desde que esta tenha em seus termos do famigerado "positivismo". 
   Comte, Tomas de Aquino, Cirilo de Alexandria, Lutero, João Caboto e tantos outros boçais  ajudaram a nos tornar "robôs cadáveres" sujeitos a dizermos "amém" à teocracias, falsas democracias ou ao comunismo tão incipiente quanto as ditaduras, porém tranquilos quando nos forçam a recebermos reflexões prontas e livres de medo - entra, neste ínterim, o trabalho das mentes argutas ao perceber que os cidadãos modernos estavam se desprendendo de suas realidades e precisavam de novas emoções, além da TV. Feito que a emoção medonha proporcionada pelas religiões ou pelo antagonismo de potências começavam a perder suas forças e um falso socialismo tomava as sociedades, então seria justo que esse elemento não perdesse seu lócus de alienado a um fim etéreo, uma vez que as fantasias consumistas, capitalistas,  religiosas e ideológicas se transfiguravam em ritmo frenético. Somente um novo produto com tal força emocional para coadunar os propósitos finais dos sistemas ideológicos  (o minimalismo, a filosofia não rendem, pois não vende e exigem esforços mentais).
    Funda-se como alimento de almas sedentárias, passivas e uniformes. Aptas a aceitar apenas "boas verdades ou realidades fantasiadas" introjetadas, inicialmente, pela semente de um parafraseador bíblico qualquer, pois além de "quase nada" livros de autoajuda são pouco mais que copismos bíblicos alimentados de modernidade para o novo homem que, contrariando os antigos preceitos religiosos ocidentais, o sujeito deve ser feliz agora e não póstumo como dizia a antiga Igreja.
   Nascem, assim, os novos “modelos de cidadãos” desde o decaimento da Igreja e da Ciência (psicologia), surgem os escritores da moda, os padres cantores, pastores milionários e um povo cantante.
   O único desejo dos escritores de autoajuda é ficarem ricos e animados com tudo e para todos - vendendo otimismo escrito metodicamente em folhas apalpadas por semanas, ou remontadas de um salmo, nada mal para homens do capitalismo moderno, pois é isso que vendem em seus livrecos: um sujeito bem aventurado (principalmente financeiramente), capaz de morrer alegre aceitando as torpezas da sociedade pautada no masdeísmo.

Comentários

  1. Você escreve muito bem, poderia escrever livros. Muito bom mesmo o texto. Te pergunto se existem pessoas que gostam e precisam, qual o mal nisso? você nunca passou por situações onde teve que bater um papo com alguém, recebe um incentivo? caso não você esta no planeta errada, se inscreva para ir a marte, lá com certeza ainda não devera ter o capitalismo que tanto te incomoda. Se alguém compra esses livros e porque que, ninguém obriga!

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  2. Preciso sim de incentivos - não que me digam que tipo de boneco devo ser - gosto do diálogo, mas as pessoas se escondem atrás de seus medos anônimo. Não julgo que esteja no planeta errado, apenas exponho um ponto de vista, lamento ter tocado tão fundo em suas muletas.

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