A autoajuda antes de ser uma pecha social do pós-modernismo é uma doença literária que ataca escritores e leitores. Se pretende antídoto, no entanto é o próprio malefício. Uma indefinição de si outorgada a outrem a tentativa de se planificar num modelo dado e acabado, ou seja, o sujeito
reconhece a dificuldade de se encontrar em sua indefinição existencial forjar-se
num padrão que negue as aventuras naturais das auto descobertas e pauta-se num modelo
estrategicamente aceito pela maioria como meio de sobrevivência: a mentira! O
lodo do lago essencialista.
A vida é nada de formas perfeitas e bem ordenadas, nada de
padrão, apenas uma ordem a seguir: a ordem do desejo que é tão inconstante
quanto a perfeição que se impõem nos paradigmas, seja isso, anteposição e
planificação que são por si mordaças imputadas confluídos nos moldes
institucionais.
Dizem os profissionais da autoajuda: “seja feliz agora”; “o
possível é o que você pensa de você”. E muitas outras frases de efeito
motivacional amparadas em respostas práticas casadas no agora e no além-túmulo.
Todo modelo motivacional esconde a verdade helenista, isto é,
tornaram-se um plágio escabroso do pensamento pitagórico: “o homem é a medida
de todas as coisas”. Os profissionais da felicidade insistem em maquiar textos
bíblicos, filosóficos, expressões populares, axiomas, máximas, apotegmas e o
que podem na tentativa de vender suas “belas” parábolas baseadas em estudos
neurolinguísticos e afins - escamoteando outra verdade gritante entre os
homens: a desigualdade de oportunidades. Escondem o sistema dado e colocam o
motor “nos fundos” do indivíduo que é o único culpado por suas desditas.
Escritores de livros de autoajuda sintetizam os sintomas do
atraso ideológico de um povo. Limitam-nos a vereda de sua crença, tornam o
social mítico - traçam uma realidade baseada exclusivamente na passividade e na
leniência. Isto é, esses escritores metidos a profetas fazem seus leitores cúmplices de seus próprios
males. (O mal a ser corrigido não está no sujeito que não sabe o que “é”, no
que não se encontrou, não tem lócus ou não crer no futuro, mas naqueles que
provocam esses danos aos outros).
O engodo geral é perpetrado na máscara que o Estado oferece ideologicamente
como verdade necessária a ordem.
Como “o possível é o
que penso de mim” se “o que penso me é dado” por outrem neste eterno momento de
levitação e abdução nas ideias dos adivinhadores da felicidade, os profetas que
nada mais querem além de fama e milhares de dinheiros? Hipócritas! Quando
pensar careço pensar por ser instigado para responder as necessidades reais ou ações que me são plausíveis – não a um modelo neurolinguístico motivacional
criado num laboratório (sendo, sempre, uma amostra tosca da realidade). Esta
metodologia de enriquecer dizendo curar os males das almas alheias pauta-se na
padronização de eufemismos, de frases bem acabadas para encobrir uma verdade: a
sua! É dissertação de uma patranha sobre o real sob forma de demanda social. Autoajuda é uma farsa literária concebida a partir de parasitoses religiosas.
O que lhe sobra então? A escolha de ser um títere feliz ou
construir “suas verdades” sozinho, pois o que vem de fora não lhe é particular... Somente a imanência é capaz de nos tornar sólidos. Isso foi óbvio para quem não suporta o "bla bla blá" da autoajuda e confuso para quem precise dela. Isso não é tudo.
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