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Diálogos subjetivos: paradigmas e morte social

Existiria um poder real subjetivamente instalado em nossos inconscientes determinando nosso modo de agir e pensar, ou seja, a subjetividade é um paradigma do conhecimento?
O Renascimento é responsável por profundas mudanças no campo político econômico e principalmente cultural de nosso tempo. Também seria a mola propulsora do pensamento nos séculos das luzes. Mas o que temos com isso?
Ao retomar o pensamento de Protágoras de que o "homem é a medida de todas as coisas" e colocar os sujeitos no centro das reflexões fez nascer no homem o amor próprio, o altruísmo desobrigado que lamentavelmente não se encaminhou numa negação profunda da Igreja (essa praga secular em seu sentido lato). O esboçado no renascimento, forjando no iluminismo se perdeu diante do modernismo, pois o modelo absoluto da ciência já se afogava em razões comerciais (então com razão esse antropocentrismo penta centenário fora mal interpretado nos últimos dois séculos).
Os homens descobrem algo que independe de sua subjetividade: uma razão que não tem um controle lógico, mas explicitamente fatual e incontestável - ontológica. Essa é uma das maiores balelas filosóficas de que se tem noticia. O que se decide ou descobre é pertencimento de um gueto, de uma classe (e sempre a dominante que é logo convencionado).
O que renascimento e o iluminismo poderia mostrar de novo, sólido e verdadeiro para o homem, é certo foi tolhido pelo tecnicismo que subsidiou os implementos do moralismo capitalista.
O questionamento da viabilidade de uma ciência social objetiva no fim do século XIX pode ter aberto o caminho à valorização da autonomia dos sujeitos, mas autonomia não teria relação com objetividade? Neste momento citamos a importância do pensamento proudhoniano num contexto em que as massas passam a olhar para si (apesar da desatenção da época as noções de subjetividade). Esta onde cada individuo, cada sociedade é dono (a) de sua verdade, obriga o "todo social" e o que serve ao outro nem sempre me serve - especialmente em sociedade competitivas: logo subjetividade é um quadro na parede de nossas mentes e nada mais. Uma vez que não existem razões subjetivas validadas diante ou entre o Estado economicista, democrático ou comunista. Existe o padrão. Nada mais que um padrão. Um corredor onde essas subjetividades instalam-se numa dança numa dança pretensamente bem aventurada e enganosa de "dois para lá - dois para cá".
Essa é a face do pós-modernismo. A diversão dos homens têm lugares determinados para ocorrer (um shopping, uma feira de carros que só muitos ricaços compram, mas o pobre e o boçal podem pagar um ingresso para olhar..)
A dúvida que se tentou instaurar séculos antes tomou força absurda para dar vazão a uma ciência do positivismo.
O subjetivismo ao transpor-se para o campo produtivo econômico busca a valorização da singularidade do indivíduo na pretensa redefinição semântica, no propósito de novas concepções carregadas de placabilidade. Não se fundam, justamente, por existir detrás do modelo econômico as individualidades que são as razões verdadeiramente subjetivadas impressas na raiz da liberdade que em tempos remotos fazia parte da vida do homem. No presente o homem paga por uma falsa liberdade e sua subjetividade é algo emprestado. Vem de fora! instituído pela psicologia, pelo marketing (que usa os preceitos psicológicos do seja feliz comprando) e pelo Estado político que se fez fórceps da massa entregando essas crias a classe dominante, ou seja, milhões de singularidades gerando, produzindo para um pequeno grupo beneficiário: os donos da terra, das corporações, do Estado e da nossa subjetividade.
O campo científico a estuda mal! E quando ocorre é demasiadamente relacionada a uma causa ou um fato social como vetor desse estudo, não as reais causas que são prioritariamente ideológicas, ou seja, antecede o fato social, mas ao acontecimento.
A deficiência se dá principalmente porque o "elemento" (sujeito 1) que estuda o sujeito da causa (sujeito 2) subjetiva vai responder as suas mais intimas indagações de como se chegar ao fim proposto pelo assentimento daquele estudo não as reais causas que moveram subjetivamente o sujeito 2. Ou seja, a resposta pretendida estabelece o caminho do estudo cientifico que logo trará a tona uma solução que contente o grupo do estudioso: o sujeito 1, o elemento do estudo que é parte dos donos dos modelos de subjetividade (a igreja, o estado, a comunidade, o patrão, a instituição). O homem não será livre porque não sabe o que é isso. Sempre busca algo para ter como grilhão a sua vida. A liberdade que busca é a liberdade convencionada numa práxis impetrada com verdade única de forma que (subjetivamente) os induz a buscar esta liberdade dentro de uma caixa pandoriana. Esta por sua vez é a realidade alheia, isto é, o que fazemos é trabalhar para a liberdade total do outro e recebermos punhados de "liberdadezinhas" (que me perdoem os filólogos) ou ínfimas formas de se sentir capaz.
Diariamente o que fazemos é responder a acordos implícitos (heranças da família, da sociedade e as ordens). Se nego o que um desses opressores me disseram sou colocado para fora da caixa. Como não posso viver fora da caixa só me um daqueles. Assim se perpetuam os formatos das caixas sociais qual a maneira correta é defender o que fora institucionalizado. Não se sabe para bem de quem isso foi sacramente institucionalizado, mas defendemos porque nos disseram que era preciso defender isso. Então o temos em nós como subjetivo pode ser extremamente falso e objetivamente nulo porque não fomos nós que construímos, mas a adoramos porque já está devidamente internalizada e defendemos como nossa por achar que somos isso. O que temos é uma sociedade com máscaras vivendo as mais deliciosas mentiras sociais acreditando ser subjetivamente livre para pensar, no entanto são livres para pensar dentro de um cubo feliz chamado sociedade capitalista!

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