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Diálogos subjetivos: O Imperador e o sonâmbulo


 Nas noites que sofria desta inquietação do sono descia de seu quarto e acomodava-se na sala como se alguém o esperasse. De fato. Em sua ilimitada imaginação esperava e o tratava por “Imperador”. Estava sempre ali pronto para um diálogo.
Inicialmente eram curtos. Trocavam duas ou três frases, logo retornava ao sono escorreito em seu quarto. 
No segundo mês a conversa tomava corpo mediante a intensidade das questões colocadas pelo “Imperador imaginário” sempre com real perspicácia de um nobre em suas teses.
No mês seguinte os diálogos se afinavam em questões existenciais... Já deveria ser a sétima visita do Imperador em sua sala. 
Até então não entendi seu sonambulismo nem as razões pela predisposição em dialogar com Imperador irreal. Como espectador nesta sala assistia a um embate de pretensões filosóficas com caráter de monólogo - um agregado que observa a razão de seu hospedeiro. Lá estava personificado num alter-ego não sei se de Imperador ou sonâmbulo. Observei por quase trinta e nove minutos o seguinte diálogo, quero dizer monólogo.

Aproximou-se de sua poltrona dizendo:

– Desculpe a inconveniente demora Imperador! Buscava em meus escritos, um fichamento, uma síntese sobre as definições de Feuerbach [1] em que afirma “a natureza é em essência a matéria (...). Deus não fez o homem, mas o homem sim que fez seu Deus e que o homem não é nada mais que um produto das forças mecânicas da natureza” (TRATTNER, 1957. p. 227) [2] É uma partícula, mas me leva a crer que nada “é” além de ser subjetivo no atendimento a demandas existenciais (a princípio), nada passa do homem e que toda ação que temos por objetivo não existe em nós e sempre está pautada na objetividade de uma força mais social que individual que se explica por uma ideologia institucional introjetada nos sujeitos e nestes os termos infundidos pelo tempo e pelo espaço na forma de reminiscências objetivas ou obedecendo a aspectos mitológicos e totemistas - não apenas em questões de religiosidade, mas as puramente sociológicas. Então existe objetivamente imposições subjetivas em todas as relações. Não há somente valores subjetivos nem tão somente valores objetivos. Uma vez introjetada a subjetividade o sujeito pode responder autonomamente seus objetivos. O que não deixa de ser ledo engano em muitas circunstâncias.

Jamais saberemos o que disse o Imperador sobre isso, mas em sua tréplica o Sonâmbulo não hesitou:

– Concordo! No entanto esta questão é mais bem discutida em J. L. Mackei (1917-81) no texto "Subjetividade dos Valores" ao afirmar que não existem "valores objetivos" o que desmonta parte do nosso entendimento sobre ética ou moral.

Pelo seu tom o Imperador parece interessado que fale mais sobre a subjetividade dos valores. Começa:

– Da afirmativa de que não existem "valores objetivos" o que seria de outro modo dizer que os valores não têm lugar fixo nem razão de segura Mackei redefine o traço impiedoso da moral que está no “é” ou no “não é” num formato leve e tênue; quase falso. Se referindo a objetividade do valor na forma corrente alega que esta tenha dois caminhos.

a) Visão de primeira ordem: negar, prostituir valores morais ou reafirmá-los;

b) Visão de segunda ordem: Status dos valores morais, natureza, onde e como se ajustam. No formato que concebemos.

Também explica que ceticismo moral é uma doutrina negativa, não existem valores, entidades ou relações. Logo o ceticismo moral está no mesmo pântano do subjetivismo moral, porém em via inversa afirma que não existem valores objetivos explicados na subjetividade sendo que tanto uma ação ou reação aos valores só podem partir de uma forma subjetiva que pretenda objetivamente prostituir ou ajustar esses valores. Perguntaria. Onde estão? O que não são valores? De onde poderia vir uma reflexão mais justa sobre nossa ação e se ela não pode ser justificada em si, qual o justificativa dos valores? Não estaria confirmando que os valores objetivos existem (implicitamente) negativos e positivos na subjetividade por ser esta o locus germinador da objetividade?

Como contraponto quero lembrar que alguns autores consideram a divisão ordenadora da moral e da ética ou simplesmente sua distinção como um despropósito infundado gerador de um problema didático. Desidério Murcho[3] afirma: “A pretensa distinção entre a ética e a moral é intrinsecamente confusa e não tem qualquer utilidade”.
Seria o entendimento de muitos filósofos razões sesquipedais e tautológicas? Por outro lado notamos desde o surgimento das grandes teorias a constante transposição de ideias de um lado para outro socorrendo uma ou outra ciência (geralmente sociais) e isso só é possível com debates e proposições. Até as absurdas servem, ao menos para serem negadas.

De todo modo o contexto faz pensar "que existe uma questão relativamente bem delimitada sobre objetividade dos valores morais - que corre o risco de se perder em meios às complicações a respeito de significados" (MACKEI). Em tese isso quer dizer que não se resolve uma questão buscando respostas (somente) distantes do campo de conflito? Existe um caminho comum entre a subjetividade e a objetividade, talvez a melhor relação de osmose possível. Mas seria essa uma relação etérea?

A rejeição a ideia de que são "uma" enquanto num "caminho comum" pode partir do positivismo. Mas até que ponto uma ideia de unicidade por não comportar contrários se refere à positividade? Surge novo impasse no campo da valoração, espaço e tempo propostos a um valor. "A concordância subjetiva teria como resultado valores intersubjetivos, mas intersubjetividade não é objetividade" (MACKEI). 

Aqui estou quase convencido que não há lugar comum para nenhuma forma de objetividade nem subjetivismo e que eles são orientados na conformidade de uma práxis sugestiva incolor, inodora e insípida de nossas ações. Mas ainda é pouco...

A descrição pode conter-se na universalidade da valoração das objetividades, no entanto ressalta Mackei "o descritivismo é uma doutrina sobre significados de termos e enunciados éticos, doutrina essa segundo a qual tais significados seriam puramente descritivos, emotivos ou valorativos". Parece-nos claro que na descrição de algo o fim já esteja implícito não cabendo mais julgamento sobre seu teor, porém (MACKEI) considera que "o significado descritivo não acarreta nem é acarretado pela objetividade". Este significado é estritamente subjetivo e impulsionado no senso comum - uma convenção subjetiva da práxis notadamente alinhada a uma prescrição dos valores objetivos em sua forma renitente de "ser" para estar.

Assestado na filosofia moral que desde muito indica os trejeitos dos valores sociais o “conhecimento das formas de Platão” é a primeira e notória idealização de objetividade moral. Em outros termos não deixa der ser paralela ao masdeísmo que ainda nos persegue. Enquanto Platão via as formas como finalidade outros filósofos atribuem a estas o aspecto de valoração moral a objetivos prescritivos. Os termos morais têm fim em si. Seu fim dita seu meio.

Mackei diz que Emanuel Kant e R. M. Hare não se sentiram capazes de sugerir “como seria se os valores fossem parte da tessitura do mundo” Justo! Tudo que temos como certo no futuro são as probabilidades das garantias que queremos nos assegurar, por isso normatizamos. Para o passado nos damos satisfeitos com as miríades de interpretações; então o "valor" nunca poderá fazer parte objetivamente da tessitura do mundo, mas também nunca deverá deixar de ser uma pretensão por ser etéreo. De outra parte o asceta moral irá nos indagar com sua razão: não somos o que somos por defender algum tipo de valor ou negá-los? Está dizendo implicitamente que os valores existem no sentido de pretensão e busca - apenas isso. Teríamos de aceitar a tese de Mackei neste sentido? Ou como este fez – podemos recorrer a um diálogo da dubiedade, impressões dualísticas de cada termo e não só como paradoxo, mas como uma antítese em comutação: o egoísmo versus utilitarismo, a bondade, o juízo moral e a objetividade de bondade e cada uma versus outra destas. Para Mackei toda ação dentro desses parâmetros sugerem o mesmo fim.

Este fim além da sugestão pode ser a realização de um desejo, o enquadramento num padrão – um ato de objetividade substanciado por forças cognoscitivas e inconcludentes conceituais, uma vez que o valor sofre variação nos termos das ações. Mais uma vez temos a dificuldade de enxergar valores objetivos, mas ainda assim podemos dizer que há fragilidade em Mackei quando expõe sua visão do “padrão de aviação” e a “finalidade geral da vida humana” tal que ambos nos colocam em um patamar de movimento realístico do arquétipo incontestável na objetividade dos valores racionalizado e aceito como mal necessário. O valor torna-se uma incógnita. Quase metafísico. 

 Todo valor é mais subjetivo que objetivamente prescrito ou praticado. Mas haveria de sê-lo não houvesse a pretensão de objetividade? E disso se permita incluir o senso comum tal como o bom senso não sendo, em totalidade, “prescrito” possa fazer parte de uma regra moral, ou seja, por analogia pode-se vislumbrar a existência de valores objetivos em lócus valorativos variados com dependência do grau de intersubjetividade.
Quando a questão é avaliar padrões essa objetividade se torna mais intensa à negação dos valores negativos como se estes fossem infinitamente inferiores aos padrões de avaliação que apenas incidem no valor prescrito. Então o que “há” seja a padronização do modelo buscando um fim claro e previsível. Nossa subjetividade é incapaz de se recriar ou se reinventar por temer o prescrito nos códigos?

– Por que isso acontece?

A resposta pode outra pergunta: “para quê?.” Os valores morais estão padronizados na câmara espectral da subjetividade e sua mutabilidade é ilógica como lógica é sua razão em curto prazo. O individuo exclama para que o meio enamore sua objetividade e dela possa surgir um contexto para subjetividade comum que possa tornar-se ético ou termos de bom senso.

Indicando “A objetividade de tais relações de satisfação não constitui um valor objetivo” (MACKEI) nos sugere dizer que apesar da intensidade da busca da satisfação, não se sabe ser pautada na objetividade moral exógena ou em razões subjetivas onde aparecem os imperativos kantianos e disso seja o aflorar da subjetividade moral com valoração em si (egoísmo) ou um momento em que o sujeito se entende “um corpo moral” incapaz de negar valores objetivamente prescritos também em formas subjetivas. Seria isso Imperador?

Desta asserção pode vir as questões de prudência, dever e função condicional fundadora do imperativo hipotético kantiano. Talvez numa oposição matreira ao imperativo categórico; ambos kantianos. A diferença entre imperativos talvez parta das noções de habilidade e prudência, haja vista o humor, a bagagem e desejo do sujeito em tornar algo válido ou não. Para Mackei isso é análogo ao imperativo moral, mas difere-se pelas variáveis; se aceitá-lo tenho de abandonar o que disse. É pressuposto (pensar) em imperativos somente num futuro que não o subjuntivo e num pretérito bem acabado quando a ação seja passível de relativa conclusão e de forma certeira deixa de ser imperativo para vir a ser práxis do que se supõe razão. O que Kant diria disso?

A tese de Mackei (não existem valores objetivos) nega a validade objetiva de elementos imperativos, uma vez que nenhuma certeza se tem sobre o que se apresenta categoricamente por objetividade.  Talvez se interesse por negar a objetividade categoricamente imperativa por reconhecer no que já seja contingenciado ou uma negação clara enquanto elemento subjetivo, de tal modo que nela se expresse uma forma negativa para conquista de uma positiva ou vice-versa. No entanto ainda há dúvidas se nesta positividade está sediada no egoísmo ou no utilitarismo – aqui fica difícil contra argumentar.

Caso tenha o egoísmo como sede esta proposição mostra o caráter do pedantismo institucionalmente subjetivo ao individuo, nisto haveríamos de aceitar a ausência de objetividade dos valores; Entretanto surge nova objeção, isto é, esta proposição elenca a ausência de valores e a obrigação que temos de recorrer às incertezas das origens das ações apontadas pela subjetividade e serem sempre duvidosas; por outro lado, caso fosse a positividade sustentada no utilitarismo haveríamos de aceitar a objetividade dos valores, mas novamente as variáveis subjetivas não nos permitiriam.

Imperador:

– (...)

Sonâmbulo:

– Ora Imperador! Não se apoie nas certezas do autor nem em minhas dúvidas. Elas ainda não me deram  caminho para lugar algum!

Se para Richard Price (1723-91) o valor ético das ações não são afetadas pelas circunstancias e de alguma forma dependem da motivação logo que dizer que no valor ético está contida a razão, a interpretação e a necessidade. Para Francis Hutcheson (1694-1746) a apreensão moral é um guia das ações nas virtudes e nas vicissitudes. Em David Hume (1711-1776) vicio e virtude são formatos das relações logo percebidas pela razão – e nada disso “é” em Kant por a razão ser um “atributo definidor” das ações (MACKEI). Em oposição Tomas Hobes (1588-1679) nos limitaria a entender nossa subjetividade infinitamente poderosa, mas isso esbarraria na objetividade alheia formando novo motivo de nossas eternas indefinições sobre o que querer o que fazer ou como fazer e somente uma lei universalizada poderia levar a um lugar comum.

Em Hume a apreensão moral é dicotomizada em vício e virtude. Razão pela qual Mackei se aproxima de Hume e de Price. Neste ultimo “certo e errado” são características da realidade e não qualidade das mentes como aponta em seus escritos.
Se percebe que Price aparta (como Hume) a ação moral (sem valor definido em Mackei) da apreensão moral subjetivada como virtude. Entende-se que para um a virtude é estática e definida e para outro a virtude só existe dentro dos limites da percepção.

Imperador:
– (...)

Sonâmbulo:

– Não... Não creio que Mackei esteja fazendo uma crítica tautológica de Price ou de Hume! A virtude já nos afigura uma convenção, uma instituição moral irrefutável. “Price nos adverte que virtude não é uma questão de gosto” (MACKEI). Por outro lado podemos vislumbrar Mackei encaminhando o individuo às inconstâncias subjetivas onde se entenda altamente solipsismo e disso poderia nascer um sujeito voltado para Hobes, Hutcheson, mas principalmente Adam Smith. Porém se afirmamos só existirem valores objetivos nos formatos da subjetividade voltamos ao subjetivismo para carregar a mente ou razão de determinada ação em termos puramente pessoais. Desta analise metacognitiva percebemos não há concepção segura num exame “não cognitivo” ou naturalista pronto a negar a autoridade da ética, ou seja, as analises se negam e se completam e nesta instabilidade não apreendem o “todo ético” a fim sustentar o contrário desta tese tal como pretende os objetivistas.

– Parece-me Mackei travou a porta Imperador!

Neste quadro caótico diz ser possível a “queda da objetividade pode comprometer a subjetividade”. Podemos levar isso para o plano existencialista qual abusa do niilismo para provocar um padrão inesgotável de objetividade e por sua vez conseguir fundar o caminho de volta apoiando-se na subjetividade deturpando a objetividade quando julga necessário o perder-se ou ganhar-se. Mas deixemos o niilismo para outra ocasião meu caro Imperador.

Em Bertrand Russel Mackei alude a validade do modo optativo e não indicativo da pretensão de objetividade, contudo Russel em seus ensaios céticos mais parece um político de extrema esquerda; não são razoáveis seus termos para opor nem ajustar-se a razão kantiana ou a externalidade das forças do valor ético de Price também não a Hume quando se apoia na percepção inversa da razão de Hutcheson para indicar a virtude como formadora da causa, contudo o fez.
Disso vem nova anfibologia: Quem está mais próximo da sutileza da pseudo verdade dos valores ou ausência? Serão objetivos ou estritamente subjetivos? Russel sobre a insatisfação normativa; Price em não permitir um lócus seguro para valores, Kant com sua ideia fixa de razão? Ou ainda Mackei invertendo todos os conceitos de objetividade lhe garantindo toda origem na subjetividade sem contudo haver positividade nesse valor, negando-lhe sinceridade como causa segura?

Mackei arremata esta ideia acenando a um “significado básico, convencional, dos termos” tornados “assunção de valores” que o importa “negar”. Este é seu objetivo (que ainda não é um valor objetivo) e apontar a falsidade na objetividade das reações morais e das prescrições éticas. Nos parece um equivoco, mas ele pode estar certo.

Creio que o imperador tenha questionado algo: “Como não?” Isso pode “não ser” um valor objetivo?

Sonâmbulo:

– Existe um universo complexo em Mackei ao nos tirar o que tínhamos como um porto seguro: nossa objetividade ou nossa crença segura nas ações entendendo-as como nosso início, meio e fim. Disso nos resta um universo vazio. E por esse caminho segue seu esquadrinhamento em questões que chama de “ética de primeira e segunda ordem, ordens do subjetivismo, juízo moral, valores morais” etc., configurando um fim comum para todos eles: não são concludentes em si nem positivos de forma unânime e só os são apoiados em seu “argumento da relatividade” Então nos situa neste argumento referindo-se que “relatividade não implica em pontos de vista éticos”, mas apoia indiretamente  o subjetivismo de segunda ordem (status dos valores, por exemplo). Em nosso entender uma resposta adequada aos valores, juízos, ou imperativos de um grupo social.

No argumento da relatividade estão ajustadas a hipótese e a superação que por sua vez percebem os valores objetivos através do pensamento moral formado pelo senso moral ou a intuição de juízos morais (o que ainda não é razão nem é um valor objetivo). O valor objetivo pode existir dentro de um subjetivismo sem face?

Devemos considerar, então, se não existem valores objetivos também não existe razão? Tanto posso pensar isso, pois em algo razoável seja necessários a busca de valores e a reafirmação de juízos morais na construção do real. Se assim não for teremos de chamar “razão” de pretensão moral de tal grupo.

Sonâmbulo:

– O que diz disso?

Imperador:

– (...)

Sonâmbulo:

– Realmente: é insolúvel.

Outro ponto bastante implexo neste autor é “argumento da estranheza” fruto das “qualidades não naturais” de Thomas More (1478- 1535). Neste argumento estaria agregada a intuição aliada a metafísica ou, simplesmente, a demanda da prescrição atendendo a parte epistemológica. Quero entender isso como razão, mas a firmeza da presente tese não me permite. Mackei parece se apropriar da reflexão de Hume sobre o conhecimento da razão e a não influencia da vontade para justificar seu “argumento da estranheza” ao confrontar o poder dos valores sobre as vontades que incidiriam em valores objetivos que por "serem prescritos" não seriam exatamente objetivos e sim subjetivos - logo temos de desmontar esta hipótese de copísmo ao objetar como resposta: “o que há” encontra-se familiarizado e próprio de uma faculdade de detecção não plausível. Isto não seria verdade para outros nem para Hume.

– O rei ainda está nu!
Ao tentar entender que os “juízos morais” não têm significados descritivos chegamos a uma dificuldade terrível de perceber qualquer valor nas ações a não ser a de satisfação biológica e quanto ao resto sobra a consideração de teatro tosco a céu aberto onde público e atores interagem e trocam os papeis conforme a necessidade de confirmação de valores. Ainda não entendo como juízos morais podem existir somente como significados e não possa haver valores morais, uma vez que um juízo moral esteja para o equilíbrio de um valor moral.

Podemos entender que real e imaginário estejam imbricados neste processo osmótico criado entre o mundo ideal e o real – a começar por Platão. Estamos mortificados em apelos éticos descritivos qual espectro nos apresenta em formas utópicas dentro de uma pureza moral que poderia, aos não pirrônicos, evidenciar valores objetivos. Ao que é oposto ao argumento da estranheza está implícita a pretensão da autoridade moral tal qual Mackei considera disforme em propósitos filosóficos. Entendo este argumento como um mundo admissível a postulados distantes dos vícios do Poder” e da “Dominação” imanentes ao homem em suas formas espirituais e físicas, ou seja, o homem tende a dominar o outro e em concomitância se rende a uma força que considera superior. Enfim, para entender este argumento não podemos nos prender a razão social fornecedora de nossa percepção. Considerando os “padrões de objetificação” Mackei se a próxima do pensamento antropológico e sugere que

padrões de comportamento socialmente estabelecidos – e socialmente necessários – exercem pressão sobre os indivíduos e cada um tende a internalizar essas pressões e a exigir de si e dos outros [o cumprimento de] tal padrões comportais. As tomadas de posição objetivadas em valores morais têm, de fato, uma fonte externa, embora não aquela a ela atribuída pela crença em sua autoridade absoluta (...) precisamos de moralidade para regular as relações interpessoais, para controlar alguns dos modos como as pessoas se comportam em relação as outras, em geral em oposição a inclinações contrárias.

Essas inclinações contrárias pressupõem uma instituição do bom senso e do senso comum chamada “bondade”, nela pode-se prender o desejo que dela depende - não mais no sujeito - sim no (objeto) desejado. O “bom” no individuo não tem lugar fixo porque não há bondade unânime. Por outro lado a convenção não permite o afastamento do núcleo moral ou estético. Neste momento não existe desejo individualizado, mas em (quase) totalidade atendimentos aos termos denominativos da mecânica social em formas de instituições físicas ou morais.

Começo a aceitar sua tese, Imperador!

Outra controvérsia se daria no “desejo” tal que o individuo não distinguisse o valor objetivo do mero desejo e disso tornaria factível a afirmativa discutida uma verdade. Estas asserções nos obrigam a remontar a indagação do “padrão de objetificação” preso a termos compreendidos nos imperativos kantianos.

Então somente a terminologia nos dá (ou nos permite vislumbrar) o padrão de objetivação que pode não existir de forma pacifica mediante as hipóteses imprecisas interculturais e por certo intersubjetivas.

Imperador! Tenho a sensação de tudo ser sensação!
Boa noite!

Imperador:

– (...)

 Sonâmbulo:

– Não há conclusão! A vida é aporia em si, uma aporia magnífica parida de paradoxos. Existe um bom porém! Se não fosse assim poderíamos ser de barro “y” tudo bem... (Não que muitos de nós tenhamos deixado de ser). Melhor sermos estas controvérsias ambulantes... 
Como última consideração, em nada definitiva como as outras logo acima, não menos plausível sugiro que o homem inventa seu mundo ideal e sofre dele logo depois.

Falaremos...

Até mais Imperador!

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Bibliografia:

TRATTNER, Ernest B.. Arquitetos de Ideias, RJ –RS – SP. Globo. 7ª. 1957.

MACKEI, J. L. Subjetividade dos valores. http://ateus.net/artigos/filosofia/a-subjetividade-dos-valores/
Acesso: 11/03/2012.



[1]  Ludwig Andreas Feuerbach. 1804-72.
[2] Arquitetos de Ideias.
[3] Criticanarede.com/fil_eticaemoral.html

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