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Amor: Convenção social número III



    Não demora muito e começa-se a entender a vida de uma maneira muito particular.
    Entrando na fase racional da vida o indivíduo se sente extasiado ao lembrar-se da poesia épica de Camões e entende todo aquele apogeu vicejante de suas palavras como uma verdade suprema. Afinal o amor parece de fato "fogo que arde e não se vê ferida que dói e não se sente", mas até onde isso é verdade?
    Onde acaba o "amor" sonho lírico sustentáculo do desejo? Ou a questão seja só ‘onde acaba o desejo? Talvez acabe na convivência, no jogo de poder que se desenvolve, implicitamente, em algumas relações, nas incompatibilidades descobertas na rotina ou na simples mudança de ponto de vista de um dos sujeitos da união.
    O que molda as atitudes não é exatamente o amor, mas o desejo, a excitação que precisa tomar uma nova cara, uma fórmula de acordo com um "certo" contorno que privilegia o ego dos envolvidos. Então o amor é troca? O amor não é se dá por completo? Se troca é um negócio, se dar-se plenamente: ausência de filáucia. Se não tens amor próprio como diz amar o outro? Está para ser uma inequação: desigualdade que só é verdadeira em certos valores das variáveis. Está ai uma resposta que talvez caiba.
    O amor é vendido socialmente como qualquer outro produto. Uma das formas de vendê-lo é através da farsa do casar para ser feliz, casar-se para isso ou aquilo. Seja hetero, seja homo o vínculo criado corresponde a uma convenção socialmente aceita (ou não). Este amor é o tipo fracassado dos relacionamentos que precisam de um contrato firmado, testemunhado e ser até publicamente festejado. No entanto para este amor, que pode (e deve) deixar de existir, assim que acabe as lembranças da lua de mel já estão de prontidão outras instituições sociais, que não são exatamente cemitérios, mas facilitam o saimento deste cadáver. 
    Não se compreende por que a sociedade tende chamar relacionamentos para casamento de amor; será que é só para atender algum tipo de indústria? Quem sabe para dar um sabor às vidas sem brilho dos trabalhadores que o percebem nisso a maior realização de suas histórias? Ou ainda por entender que essa é a única forma de prender os instintos selvagens dos humanos? O certo é que não se tem uma resposta definitiva para nada.
    Se este tipo de “amor ajustado” tem tantas pechas sobra beleza no amor genético (quando existe), ou seja, "o amor é um altruísmo genético" quando possível. Então casa-se para ter crias, amá-las e ter o gosto de sentir o amor? Não se sabe. Pense na versão do amor. 
    O que faz um indivíduo desejar outro são suas equivalências que somadas ao nível de reciprocidade determina a persistência do desejo, caso não haja resposta, busca-se equivalência noutro elemento até chegar-se a algum tipo de realização. O que é ou onde está o amor num casamento? Está no sexo e dura alguns minutos!
    Amor é uma causa social dentro de outra. Pobres amam pobres; ricos amam ricos; hienas amam hienas e assim sucessivamente.
    Logo o amor só tem lugar no sexo que precisa ser cuidadosamente organizado na manutenção da moral social. Amor é sub ideologia da práxis travestida de beleza pela poesia, pela religião e recontada pelos romancistas, aceitas por transeuntes sociais. Cada sujeito com seu propósito diferente de "amar" chamando de amor. Sugiro um sinônimo para o termo amor: Utopia.

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