Era um cara aparentemente de bem com a vida; um fanfarrão, riso
presente como perfil pessoal, mas depois da rotina do casamento passou dos
gracejos às sátiras em especial as que tratam o matrimônio.
Às vezes dizia em tom tragicômico:
- Casamento é um contrato civil entre duas pessoas onde um se dá
bem e outro é o marido¹.
Alertei que inversão para o feminino pode ser tão certa como.
Rio e comentou um episódio pessoal.
Certa vez, tarde da noite, já fustigado pelo sono, sua companheira
lhe pergunta (como um tiro a queima roupa).
- Você me ama, me suporta ou me odeia?
Pensou. Ela não quer discutir a relação a esta hora! Mirou seus
olhos e notou... Quer sim!
Arrazoou.
Qual resposta não deve piorar a relação.
Se disser que amo: terei de provar. Hoje não posso - sou mais
egoísta que todos os amantes da teoria de Adam Smith juntos; caso diga que
suporto não convenceria porque esta razão é sempre da mulher, só elas podem
dizer que toleram os homens, tudo bem... Alguns sujeitos nem as merecem, mas as
têm. Se disser que a odeio? Não, acho que não... Ela é legal.
Sem tempo para refletir disse:
SIM!
- Sim o que? Seus olhos pareciam dizer: - desgraçado acorda!
- Odeio, suporto e amo!
Depois de rir com o lado direito do lábio...
- Você é louco! É soturno.
- Não. Tenho sono...
Sem expor... Pensou:
Casar que é desatino. É mais... É uma sociedade com fins
biológicos em que a razão tenta operar sobre a emoção quando esta passa;
uma simbiose autêntica, também a forma adequada de manter as
sociedades em seus padrões seculares. É a primeira mentira que os adolescentes
contam para sua fase adulta, talvez enganados pela volúpia mascarada na forma
de um "amor" elencado no temor de não ser (igualmente) aceito
socialmente por viver só.
Sentiu-se o último epicurista vivo.
Admirador dos apotegmas do Barão de Itararé lhe veio a mente um
dos mais conhecidos:
"Casamento é uma tragédia em dois atos: civil
religioso². Não sei por experiência própria dizia ter descoberto a única
razão do marido. Não estranhe, mas a única forma do marido estar certo é
admitir que não tem razão.
Naquele momento fingir que pingava de sono era a melhor saída,
pois já não tinha nenhuma resposta convincente e não menos considerava
casamento a vida de Ariadne sem o fio salvador.
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¹ Dito popular.
²http://pensador.uol.com.br/autor/barao_de_itarare/
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