O que é periférico a qualquer elemento nuclear nem sempre
significa falta de valor ou ausência de relação com sua base (o núcleo). Este
não é o caso das culturas periféricas com as culturas dos centros das
cidades.
No pensamento antinômico "núcleo - periférico" estão as
formas de vida sociais e biológicas. A segunda poucos entendem
perfeitamente, a primeira todos tentam entender, principalmente, em seu aspecto
político cultural ou somente no que alguns andam chamando de "cultura da
periferia" (balela). O azo da periferia não é digno de ser vendido como
objeto cultural de valor. Seu "modus vivendi" não passa de ledo engano (um cão
atrás da salsicha puxada por um foguete da elite).
Aparentemente para a sociedade a periferia nega a cultura nuclear,
mudam-se os conteúdos, mas o desejo e a formas são equivalentes.
Por quê?
Simples.
Não é capaz de relacionar-se por não ter amplitude sobre formas de
conhecimentos e, é fato, lhe falta gosto no entendimento epistemológico.
Na periferia da cidade assim como em outras formas de vida celular
estão os elementos facilmente substituíveis, diferentemente do núcleo o que
está na periferia é um número e não um status.
Lá está o maior percentual de igrejas, bares, pessoas desassistidas,
homicídios, analfabetos e outras formas desgraçadas de vida social, mas o que
faz da periferia algo tão tosco e insólito? A ausência de conhecimento
organizado poderia explicar a ignomínia da plebe rude?
Sim e não.
Sim porque o sujeito da periferia não é capaz
de entender o contexto amplo da sociedade e tem um mundo particularizado nas
formas mais patéticas de felicidade que passa da novela ao sincretismo, do bar
aos cultos religiosos. O analfabeto funcional da periferia encerra o
final de semana ébrio num boteco vizinho, pois o que sobra numa periferia é a
vontade de ser feliz agora (já) numa igreja ou num bar - nada mais que isso -
duas formas de bitola do povo. Neste cenário é real a ausência de relação com a
base nuclear, ou seja, a cultura da elite. Aqui não temos sujeitos que
consigam apoiar seu polegar sob a mandíbula e o indicador diante
do zigoma em sinal de reflexão como se ver em fotografias para vender de
algum produto literário.
Não porque enquanto indivíduos que aprendemos
com o outro não podemos, constantemente, ir além do que está ao nosso alcance,
logo repetimos o que nos fora aproximado: se ignorância, se desenvolvimento
intelectual o próprio e muito mais.Nas zonas periféricas já existem elites
do pior, isto é, uma sub elite formando uma realidade própria longe das formas
tradicionais ou puras de arte da sociedade. Recriando uma "realidade
paralela" sem valor histórico que agregue para o avanço mental de seus
membros. A música seja (talvez) a única forma de arte visitada pela periferia
qual tomou um estilo escatológico e para o desespero de todos já começa a cair
no gosto das classes mais abastadas. Não que a elite nunca tenha consumido
lixo. O problema é que ela possa usar seus aparelhos ideológicos para
disseminar o lixo da periferia com fim de lucrar. Como sabem a elite quer ficar
rica!
O ponto obtuso dessa realidade, além da falta de unidade, é o
barulho, os inferninhos tidos como diversão de final de semana: o pagode, o
forro, baile funk, etc,. O som alto diuturnamente, os bares e seus jogos
de azar em lugares improváveis (jogatina da periferia patrocinados por
corruptores de uma instituição pública), os bêbados, os jogadores berrando
(sobre as mesas de baralho ou sinuca) uma vitória uma partida, o frenesi do
culto carismático ao lado do bar, a ladainha dos católicos a frente numa mini
paróquia, o boçal que passa na rua em seu carro com volume estratosférico
(estremecendo portas e janelas). Esse é o diário da periferia. Todas são iguais
nas grandes cidades de países pretensos industrializados e sedentos de
desenvolvimento. (?) Não se sabe qual!
Por estes e outros motivos que não se pode dizer que
"periferia rima com poesia" conforme publicado por (O Globo -
Segundo Caderno, p. 4)¹ um dos jornais da rede de TV oficiosa dado a reunião de
150 pessoas em um sarau. Há anos (a TV oficiosa) tenta impor a cultura dos
guetos como valores nacionais porque lhe é mais vantajoso financeiramente
também a fim de facilitar a manipulação da massa levada como uma vaga ao sabor
dos desejos globais. Está claro viu neste movimento mais uma justificativa para
valorização do "povão" que lógico não vivi este mundo, em esmagador
percentual estão longe de serem letrados ou terem algum gosto intelectual.
Diferentemente do que pinta o jornal da "rede oficiosa"
estas zonas² (em todos os sentidos) são algo pior que o inferno de Danti, pois
não é um lugar de passagem nem um espaço para a condenação de quem errou pela
vida que tivera, mas o nascituro de um grupo de indivíduos aptos a viver do
sobejo da vanguarda com a promessa que virá o paraíso no consumo ou além dele
desde que consuma algum produto social: de fé ou encontros ditos sociais,
apesar de todos os paradoxos vividos querem o céu, não sabem que não há nada
além do zênite.
O ser que não compartilha desse modo de vida pena na esperança de
emigrar para junto de um povo que sóbrio e diletante (começo a pensar em asilo
político para sair de uma democracia pregressa e prostituída, mas para
onde vou?)
Por outro lado não se deve considerar que a pobreza seja a
matriarca da ignorância das periferias com suas músicas obscenas,
apologéticas ao crime, sem razão, sem nexo algum; também que a pobreza gere
sujeitos incapazes (inanes mentalmente) de conquistar conhecimento
organizado (locus da
cultura de vanguarda), mas a falta de perspectiva pessoal, a descrença no sistema
e a acomodação como garantia dos prazeres do agora (o álcool, a música em
alto falante para o quarteirão, a baderna como forma de autonomia).
Em síntese este é o mundo ideal da periferia, pois o mundo real
não pertence a autômatos, porém aos que manipulam do real para o ideal. O que é
mundo real ou mundo ideal, então? Simplifico. No ideal vivem os tolos, no real
aqueles que indicam o que os tolos devem fazer para viver.
Tornando mais claro. "Periferia: o inferno é aqui!".
SOCORRO... NIETZSCHE, EPICURO, SÓFOCLES!!! SOCORRO!!!
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Notas:
1. -Ano LXXXVII, 04/02/12 - Edição 28.670)
2. Zona na gíria (em língua portuguesa) significa prostíbulo, bordel. Acepção original: região.
Nao gostei pois nao li
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