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Solilóquios de um lavrador (Parte II)


As instituições não estão para solucionar nem para mediar problemas, estão para contenção dos ânimos limitando os sujeitos em suas ações e em possíveis refrações ao sistema ideológico, uma vez que o formato implantado beneficia um grupo e seus aspirantes. 
Se o crime não tem cura o que justifica salários estratosféricos dos donos do poder e dessas instituições, como lavradores lhes organizamos o alimento para sua sobrevivência e temos acessos sociais minguados. Se as demandas parlamentares são tão árduas por que matam, roubam e morrem por elas? 
As instituições criam os problemas e financiam sua solução através de peças teatrais monótonas: o juiz, o advogado, o réu, as testemunhas na arquibancada sedentas de sim e de não. Isso é tudo que o povo come: punhados de sim e de não. 
A economia da cidade é pautada no protocolo, na usura, no medo, na moda, na felicidade financiada e na esquizofrenia das divisões de classes. Sendo esta última a maior e mais bem cuidada de todas as instituições sociais. 
Existe algo sórdido e inexplicável na economia: sua volubilidade tranquilamente aceita como necessidade geral.
Depois da quase total destruição do planeta a economia tem se voltado para a venda do conhecimento. É o mais controverso de todos os produtos comerciais, pois não encontra-se totalmente fora do sujeito e sua introdução completa forma bonecos sociais, comprá-lo não significa absorção dado que o conhecimento seja o produto da moda. 
O protocolismo está em todas as partes.
é basicamente desse conjunto que vive a cidade, isto é, A cria um problema; B tenta resolver; C diz que provas que A tem um álibi fortíssimo e vai provar sua inocência; J quer a resolução num tribunal; M oferece a solução mediante o consumo de um produto que acabara de inventar, F cria uma instituição para cercear o surgimento de problemas parecidos; X formula uma teoria que explica a práxis; todos dizem blá-blá-blá... Até surgir um assunto que os faça esquecer-se do anterior.
Universalmente estólida a sociedade diz progredir, compreende-se algo pregresso, nota-se a incapacidade dos indivíduos em se desapegar de valores inúteis, há incompreensão, há ausência de gestos humildes; vê-se "sujeitos preparados para vencer na vida", mas o que de errado em vencer? Nada se o modelo dado não fosse a exploração desmedida da natureza em si e da humana com padrões de submissão institucionalmente aceitos.
Era este o mundo real do primo: o cidadão bem aventurado. Não podem dizer que tudo fora visto aqui pelo prisma campestre, apenas notou-se que na cidade problemas são transformados em cavalos de batalha ou escaramuças ideológicas para fabricação de novos heróis: o policial, o prefeito, o traficante, o padre, o empresário, etc. realidades diferenciadas valorizadas burocratizadas e festejadas com ritos inaugurais, geralmente, com aplausos dos pelegos ou pelos antolhos da satisfação que acredita tudo ser responsabilidade do outro e não de cada um; como se não fosse uma proposta lógica da condição humana "o realizar".
Na casa das máquinas vive-se de encantamentos alicerçados em conceitos e preconceitos maquiados por seus diversos dogmas: Do capital ao religioso, da justiça ao descaso, da política a sua ausência, do engano ao real, da cidade versus campo, do individualismo negando o coletivo...
Sim e não, bem e mal são nossas maiores demências.

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