A grande utopia da humanidade é se tornar humana
A
vida humana só é possível com a destruição de outras formas de vida. Essa
condição é aterradora se refletirmos a fundo.
A
condição humana é a condição do estômago e do sexo! Isto é, na verdade a
humanidade, assim como o amor e a democracia que lhe são imanências, é a maior
das utopias - as duas seguintes não passam de perfume incorporado aos adornos
que lhe apraz.
O
que temos e aceitamos, então, é uma subumanidade dentro da moralidade
(animalesca) reinventada e transformada em condição social.
O
que é mais verdade?
Os
outros precisam mais de nós ou precisamos em maior grau do dos outros? Difícil
saber...
A
realidade é uma invenção alheia ou própria de quem a vive?
Talvez
nada disso! Note que o que precede toda ação é a fome, o desejo sexual, a
vontade da mutação da não condição anterior a partir do momento que estamos
devidamente educados por um sistema, agora nos equivalemos a um grande
organismo celular: nascendo, renascendo, fornecendo energia ao grande corpo
(humanidade-sociedade), mutando, evoluindo, rejeitando organismos estranhos a
nossa cultura (como um corpo rejeita um órgão diferente ao d'antanho)
envelhecendo e morrendo. Somos apenas um membro deste que desde muito
considera-se dono de tudo que há em seu locus.
Se
o homem vive para satisfação do estômago e do seu sexo, pois é tudo muito
claro: o trabalho é o novo jeito dos indivíduos organizarem suas vidas - uma
diferença que chamamos de evolução diante do período em que caçávamos para
sobreviver - e com ajuda das superstições e dos mitos que alicerçaram as
religiões o homem passou a execrar a possibilidade da humanidade dos demais e
diz-se evoluído. Pergunto em que sentido.
A
realidade é um grande acaso em que fingimos dar tudo certo. O maior de todos os
acasos, mas ainda assim é o meio mais seguro para a busca incessante da vida e
de sua compreensão. Algumas são de fácil entendimento, pois são atribuídas a
uma divindade e pronto, mas isso não é tão simples.
Ao
imaginar compreender a realidade o indivíduo nada mais faz do que absorver a
condição de pretensa humanidade do outro.
Seu
sinônimo pode ser traduzido por intencionalidade carregada de introjeção com
instintivo poder de reciprocidade (o infanto é o primeiro e maior modo de
apreender o mundo e nunca o abandonamos absorver o que nos disseram nos dá a
segurança de sermos aceitos). E é no grau de aceitação que são colocadas as
relações sociais. Por que não podemos chamar de relações humanas? A resposta
está dentro de você! Ou quem sabe nas ralações de poder entre os indivíduos.
Este que é o grande mal da sociedade? Não sabemos, pois só podemos chamá-lo de
sociedade.
O
homem acredita tanto na sua humanidade (lat. humanu -bondoso, caridoso) que
mesmo diante de sua animalidade plausível as nega baseando-se nas ralações de
poder per si criadas e apoiadas
na manutenção das ideologias que o estágio interrelacional propiciou, ou seja,
o individuo aceita a determinada condição quando conveniente. O que somos se
não sabemos o que somos? Animal ou humano? A melhor representação da vida
humana é o espectro da adolescência, suas veleidades, seu prazer desmedido na simplicidade, sua determinação para o nada útil, seu desapego, sua
boçalidade.
Parte
de nossa bagagem só nos fora impregnadas diante das necessidades de outras
realidades, só se tornam possíveis se forem cabíveis e vantajosas às realidades
ou anelos alheios, em suma, o outro aprova ou não nossa realidade tão desejada.
Disso
abstrai-se que o real pode ter um ponto de vista negativo ou positivo, tal como
frio - quente posto - aposto, dia - noite, A realidade, como o humano também é
absurdamente disforme, Proteu em suas faces mais sombrias. O visto é que a
humanidade do sujeito, antes de lhe inserirem os pretextos ideológicos, já está
fadada no negativismo ou no positivismo do ponto de vista endógeno e exógeno
com ampla variação de percepção.
Isso
tudo deveríamos chamar de humanidade! Não obstante, fechamos os olhos para
qualquer entendimento que anteceda as relações sociais formalizadas
(capitalismo, religião, educação e Estado) e não percebemos que existe um
universo crônico dentro de nós que insistimos em não enxergar: como se
usássemos antolhos, seguimos, por eles levados em alguma direção como se essa
fosse extremamente satisfatória... Por que, para o que e para quem?
Quando
não temos consciência da desumanidade que temos, ainda não conquistada seu
avesso, vivemos plenamente o mundo dos títeres em prol das inconstâncias de
outrem.
Sim! Desumanidade, pois a humanidade imposta é na prática um jogo
de cena social: uma teatrocracia infundida como verdade absoluta e venerada
pela vanguarda (modelo de humanidade) que se apresenta como o melhor exemplo de
ser e de estar... Mas somos apenas sombras, ainda.
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