Diz a convenção:
– Que fale agora ou cale-se para sempre!
– Que fale agora ou cale-se para sempre!
Fim da frase início de uma vida a dois (no mundo ocidental e na bitola
religiosa mercantilista de algumas sociedades: casamento). Isso pode ser bom
para muitos, tanto é que os índices aqui, na China e na Índia estão crescendo
com o vapor das respectivas economias. Sei que partes dos casamentos não
precisam de um padre com suas frases monótonas nem um monge dizendo: “quando
estiverem falando línguas diferentes basta ir para um canto da casa e ficar
zen”, mas constantemente há um protocolo tosco que quase sempre dá em nada ou em juízo
- independente da cultura.
Dia desses estava dado nos jornais que o índice de casamento está em
alta por aqui - também o divórcio tem crescido não proporcionalmente. Os
separados casam-se novamente inflando o índice. Estranho, mas casam-se pela
segunda e terceira vez.
Tenho um amigo que complementa essa estatística em todos os formatos. A
busca, o encontro, a união, a desunião e a repetição (diria do erro, mas se é
assim que se busca a felicidade e esta como é um elemento altamente subjetivo
nada nos convém indicar).
Contava sempre.
Sua vida de casado era um inferno astral perene. Diferente de Danti (A
divina comédia) seu passo mais avançado era o purgatório. Não conhecia os
elementos que fizessem fluir a relação, dizia ter perdido a graça da união
justificada no casamento. Lembrou de um amigo que dizia sem temores que "casar é forma mais cara de transar de graça".
Os encontrões eram diários, sua rotina parecia ser alimentada de mal
estar; nesta situação quasimodal ainda havia espaço para contextos toleráveis
(dignos de vida de casal). Mas o entorpecimento era presente, também, às
vezes, a mim que cedia os ouvidos para seus fracassos conjugais.
Confessou certa vez que "suportava" para salvaguardar a
família, mas quando a pessoa que ultimamente tem classificado de “minha futura
ex-mulher” o acusa do que "é" fica sem norte, não tem defesa...
– Como posso dizer que não sou o que sou ou justificar-me que sou uma
falha e vou me corrigir por que outra pessoa me quer diferente? Devo negar meu
ego e fabricar um alter ego que convenha? Não sei como me defender das minhas vontades ou de "um mim que não sou eu"; mentiria para ambos se justificasse porque ser assim e não da forma que me quer - se deixar de fazer minhas vontades para atender a do outro estarei negando
"meu eu", não caibo nesse padrão; quero propor um termo para
substituir casamento: "se me houver outro quero que se chame compreensão,
casar é uma forma verbal sem sentimento implícito, quero compreender em
todos os sentidos sem alterar o lado de lá, desejo infusão em seus amplos sentidos!"
O que faço me apraz e se sou desagradável a outrem não é com satisfação é porque
não sei "ser" para o que está fora ou longe do ímo, mas para que me faça algum bem e não altere negativamente o que não está em mim (os
outros). Não se nega o exercício latente da subjetividade para atender a
demanda alheia, não sei fugir dos valores que absorvi por gosto, por
persuasão de outrem ou pela ordem moral do sistema.
Desabafou.
– Não sei se sei o que é amor, talvez não tenha encontrado a pessoa certa;
se é que isto seja possível a alguém – quiçá esta ideia seja mera conformação de quem diz
ter...
Completou.
– Li textos poéticos para encontrar inspiração na vida a dois, me fez
bem ler somente o que parecia uma fuga. Queria seguir o caminho de Pasárgada[1] ou de algum mundo
paralelo, li textos satíricos do humano crônico que trata do amor como uma
das utopias da humanidade, estas são as indefinições mais completas que observei
e não absorvi sobre amar.
Calou-se por um instante.
Levantou-se e (quase num brado) disse:
– Vou me separar... Quero amar de novo; amar é a vida em si; almejo
viver... Amor é jogo: quero ganhar! Quero amar! Desejo errar, anseio
vibrar e fazer vibrar...
Estamos faz sete luas desta conversa e a dois passos da quinta noiva da
década...
Comentários
Postar um comentário